Cacique transexual: Não há piadinhas sobre gays aqui; isso sempre existiu

Ela se tornou cacique após o pai Raimundo Itogoga, de 79 anos, se afastar do cargo por problemas de saúde.

Cacique transexual: Não há piadinhas sobre gays aqui; isso sempre existiu

A primeira cacique transexual de Mato Grosso, Majur Traytowu, de 30 anos, da aldeia Apido Paru da TI Tadarimana de Rondonópolis (a 212 km de Cuiabá), contou ao Reporter MT que lidera seu povo sem qualquer preconceito e sonha em ser médica. Ela se tornou cacique após o pai Raimundo Itogoga, de 79 anos, se afastar do cargo por problemas de saúde.

De acordo com a cacique, ela nunca passou por alguma situação de preconceito dentro ou fora da aldeia. Na comunidade, segundo ela, existem outros indígenas gays e isso é “normal”.

“Eu nunca passei por uma situação de preconceito, sempre souberam como eu era e a minha mãe me dizia que isso sempre existiu. Esse negócio de piadinha nunca vi aqui. Na aldeia existem outras pessoas iguais a mim e somos tratados normalmente”.

Majur explicou que sua sexualidade nunca foi um problema na aldeia, pois ela afirma que sempre teve o apoio de todos.
 
"A minha aceitação desde pequena foi super tranquila. Eu não me recordo de nenhum momento em que poderia ter sofrido preconceito aqui dentro. Eu sempre tive o apoio da minha família para tudo".
 
"Por eu ser uma pessoa bem ativa e a articulada na aldeia, minha família falou que eu poderia ser a cacique. Sempre fui respeitada e nunca tive resistência de ninguém por ocupar o cargo, mesmo não sendo eleita. Sempre tomei as decisões sobre meu povo junto do meu pai, desde de pequena fui ensinada a liderar", explicou.

Majur contou que já concluiu o ensino médio e que atua como agende de saúde indígena. Apesar da dificuldade em avançar nos estudos, ela disse que já fez alguns cursos e que seu maior sonho é se tornar médica para ajudar ainda mais sua comunidade.

"Eu já trabalho na área da saúde, mas como minha família não teve condições de me ajudar, porque para estudar eu tinha que sair da comunidade eu parei. Mas meu sonho é ser médica. Temos vários exemplos de indígenas se tornando médicos no Brasil e gostaria de ser uma, poder ajudar ainda mais a minha comunidade", declarou.

Sobre a pandemia da covid-19 ela explicou que no início todos na aldeia ficaram em choque e que até hoje, usam remédios caseiros para ajudar na prevenção da doença.

"Quando começou, a nossa reserva entrou em choque, parecia o fim do mundo. Como é uma doença nova, a gente ficou bastante preocupado. Tentamos ficar tranquilos, estamos usando bastante remédios caseiros e assim enfrentando a pandemia".

A cacique disse ainda que continuará lutando pelo seu povo e que além de se formar em medicina, sonha em ter uma família e uma vida social estável.

"Hoje me sinto um pouco realizada, não totalmente, mas com essa trajetória até aqui me sinto importante como Majur e como liderança. O plano é continuar com essa luta pelo povo até me realizar por completa. Pretendo fazer medicina, ter uma vida social estável e também criar uma família", concluiu.

Fonte(s): Reporte MT
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