Pesquisadores da Universidade de Sydney, na Austrália, anunciaram nesta quarta-feira (17) uma descoberta que promete revolucionar o tratamento de picadas de cobra naja. Segundo um artigo publicado na revista "Science Translational Medicine", o anticoagulante heparina, comumente utilizado na medicina, pode ser um antídoto acessível e eficaz contra essas picadas venenosas.
A descoberta, liderada pelo professor Greg Neely da Faculdade de Ciências da Universidade de Sydney, pode reduzir significativamente lesões e amputações causadas pelo veneno da naja. “Nossa descoberta poderia reduzir drasticamente os terríveis ferimentos causados pela necrose causada por picadas de cobra naja – e também poderia retardar o veneno, o que pode melhorar as taxas de sobrevivência", afirmou Neely em comunicado.
Impacto Global das Picadas de Cobra
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 4 e 5,5 milhões de pessoas são picadas por cobras a cada ano em todo o mundo, resultando em 81 mil a 138 mil mortes por complicações do envenenamento. As cobras naja, que não são nativas do Brasil, representam uma ameaça significativa em países onde são encontradas.
No Brasil, o Instituto Butantan é o principal produtor de soros antiofídicos, específicos para cada gênero de serpente, a partir de seu veneno. Como as najas não são nativas do país, o antiveneno para essas serpentes precisa ser importado. O Instituto Butantan mantém algumas najas para pesquisa e exposição e importa um número limitado de ampolas de soro para acidentes de trabalho com esses animais.
Tecnologia CRISPR e a Descoberta
A pesquisa utilizou a tecnologia CRISPR, uma ferramenta de edição de DNA, para identificar genes humanos essenciais para a ação do veneno de cobra. Os cientistas focaram nas enzimas necessárias para a produção de heparina, permitindo adaptar este anticoagulante como um antídoto eficaz contra a necrose causada por mordidas de cobra. Em 2019, a mesma abordagem foi utilizada para identificar um antídoto contra o veneno de um tipo de água-viva.
Nicholas Casewell, chefe do Centro de Pesquisa e Intervenções sobre Picadas de Cobra da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, que também participou do estudo, destacou a importância desta descoberta. “As picadas de cobra naja continuam a ser a mais mortal das doenças tropicais negligenciadas, afetando principalmente as comunidades rurais em países de baixo e médio rendimento", alertou Casewell. Ele acrescentou que os antivenenos atuais são amplamente ineficazes contra envenenamentos locais graves, que envolvem inchaço doloroso, bolhas e necrose tecidual ao redor do local da picada.
Conclusão
A descoberta da heparina como antídoto para picadas de cobra naja é um avanço significativo que pode salvar vidas e reduzir os danos causados por esse tipo de envenenamento. Com essa nova aplicação, há esperança de um tratamento mais acessível e eficaz para as comunidades afetadas por essas picadas, especialmente em países de baixo e médio rendimento. A pesquisa continua a buscar antídotos semelhantes para outras cobras venenosas, com o objetivo de ampliar ainda mais os benefícios dessa descoberta revolucionária.
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