A jovem Júlia Galvão, de 28 anos, conta que encontrou nas flores uma forma de realizar o sonho dela de se formar em direito. Ela vende flores nas ruas de Cuiabá e quatro anos depois de ter precisado trancar o curso, Júlia voltou para a faculdade e se formou, com o dinheiro das flores.
Júlia vem de uma família de autônomos. Desde criança, aos 8 anos, passou a vender amendoim na rua para ajudar no sustento da casa.
"Meus pais, desde a adolescência deles, vendiam amendoim, flores, nas ruas. Meu pai vem de uma família grande, de 12 irmãos. Meu avô começou a fazer os arranjos para eles venderem", conta.
Aos 14 anos, ela trocou os amendoins pelas flores. Já viajou pelo Brasil para trabalhar e conta que ia andando pelas cidades do interior vendendo.
Em 2011, a jovem entrou para a faculdade de direito. Era um sonho que tinha desde muito nova . Conseguiu uma bolsa de 50% de desconto e o pai a ajudava com o restante. No entanto, em 2015, faltando apenas um semestre para se formar, a bolsa foi cortada e ela precisou trancar o curso.
"Para mim foi muito doloroso na época, porque eu queria muito me formar", narra.
Foi nas flores que Júlia encontrou um meio de juntar dinheiro para quitar as dívidas das mensalidades atrasadas e continuar a estudar, mas sempre com muita dificuldade, porque, nesse meio tempo, teve a primeira filha e precisava sustentá-la.
"Muitas pessoas se solidarizavam comigo e acabavam comprando todas as flores, ajudavam. Em 2019 conseguir ir à faculdade, pagar o dinheiro, e me formei.
Ela conseguiu se formar em 2019 e é a primeira pessoa da família a conseguir um diploma. atualmente, é bacharel em direito, mas não atua na área, continua com as flores, porque é delas que consegue o sustento de casa.
"Eu trabalho e tenho dinheiro para comprar comida no outro dia, um leite, uma fralda. Se eu não trabalho não tenho nenhum fixo. Só as flores. "
Durante a semana, a jovem vai para a Praça Popular vender flores . Por noite, ela leva para o local pelo menos 20 botões de rosas e, para conquistar o cliente, esbanja simpatia e faz uma boa propaganda.
A autônoma conta que acredita que ganhar uma flor de alguém importante é criar memórias.
"Não é só uma rosa, é um momento e esse momento é para a vida toda", diz.
A jovem conta que está nos planos conseguir o registro na OAB e trabalhar como Policial Rodoviária Federal enquanto isso não acontece, ela continua criando memórias para os seus clientes.
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