Dez anos após uma promessa memorável ao público brasileiro, o Arcade Fire está de volta ao Lollapalooza Brasil, trazendo não apenas uma nova formação, mas também enfrentando um momento de redefinições e controvérsias. A última vez que a banda pisou nos palcos do festival em terras brasileiras, em 2014, deixou uma promessa de vestir as cores da seleção caso o Brasil vencesse a Copa do Mundo daquele ano, uma edição que infelizmente ficou marcada pelo histórico 7x1 contra a Alemanha.
O grupo retorna com uma alteração significativa em sua composição: a ausência de Will Butler, tecladista que anunciou sua saída no ano passado, citando mudanças pessoais e na banda ao longo dos últimos 20 anos. Esta saída ocorreu pouco antes do lançamento de "WE", álbum que, segundo expectativas, receberá um destaque especial no repertório da apresentação, juntamente com sucessos anteriores como "Everything Now", "Reflektor", "Neon Bible", e, especialmente, "The Suburbs" e "Funeral".
"The Suburbs", celebrado por seu Grammy de Álbum do Ano em 2011, e "Funeral", com a icônica "Wake Up" frequentemente encerrando as apresentações, são testemunhos da evolução da banda desde sua estreia. No entanto, a maturidade do Arcade Fire vem acompanhada de um período conturbado, destacado por acusações de abuso sexual contra Win Butler, vocalista e uma das figuras centrais da banda. Reveladas em uma extensa reportagem da Pitchfork em agosto de 2022, as acusações partiram de fãs e mergulharam o grupo em uma crise que testa os limites da relação entre artistas e seu público.
Win Butler se defendeu das acusações, atribuindo parte de seus comportamentos a problemas de saúde mental e traumas passados, enquanto Régine Chassagne, co-fundadora da banda e esposa de Butler, expressou seu apoio incondicional ao marido. Essa situação colocou os fãs em uma posição delicada, forçando muitos a reconsiderarem seu apoio à banda e a separarem, se possível, a arte de seus criadores.
A apresentação do Arcade Fire no Lollapalooza Brasil 2024, portanto, não é apenas um retorno ao festival ou ao país, mas um momento decisivo que poderá definir o futuro da relação da banda com sua base de fãs e com o mundo da música como um todo. Enquanto "WE" pode iniciar o show com "Age of Anxiety II (Rabbit Hole)", a verdadeira ansiedade pode estar na expectativa sobre como o grupo abordará estas questões em um palco tão emblemático e diante de um público possivelmente dividido.
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